quinta-feira, 11 de maio de 2017

O quarto vermelho

Agora lendo a versão completa, na tradução genial de David Hawkes, só me resta repetir o que escrevi em 2009:

"Não é uma viagem curta, duas horas e quinze, e consumiu facilmente o capítulo VII de The Classic Chinese Novel, do professor C.T Hsia. Seu texto, brilhante em vários momentos, trata do Sonho do Quarto Vermelho (Hung-lou meng), publicado originalmente em 1792. O autor é Tsao Hsueh-Chim, mas já sabemos que sua real autoria jamais será conhecida e é provável que a extensão atual e parte dos capítulos finais seja obra dos editores. Fosse Chin Sheng'tan vivo, o Sonho seria ainda melhor e mais ajustado. Notas anteriores desse blog registram que já tentei ler o Sonho, sendo interrompido pelo tédio natural provocado por desventuras de amor. 

O professor C. T. Hsia mostra, contudo, que essas desventuras, festas, romances e outras trivialidades sociais da grande mansão senhorial do Yungkuofu não podem ser entendidas senão à luz do que não se mostra. A realidade da política imperial, onde toda riqueza é incerta e toda posição superior pode comprometer a honra. A realidade das políticas matrimoniais, onde o amor é inútil e a sensibilidade um risco. Durante um tempo, as jovens sonham com o amor, os jovens sonham em ser sensíveis. Elas querem se divertir, eles não querem crescer. É como em Brasília. 

O relógio da vida, contudo, segue batendo. Uma hora, virão os concursos para o serviço do Imperador; uma hora virão os casamentos arranjados ou a posição de concubina. Então os jovens vêem que os velhos apenas os pascem como gado, os divertem por um tempo, os deixam brincar na proteção de um jardim. Tsao Hseuh-Chin, contudo, não está interessado em escrever um romance de formação. As moças ficam doentes de amor, os jovens são empurrados para a perda do caráter, para a insensibilidade. Algumas morrem, outras viram freiras, outros se embrutecem no Tao. Tudo se desfaz, como um sonho no quarto vermelho. Fica um gosto ruim na boca."