quarta-feira, 12 de junho de 2019

As canções do Sul

Qu Yuan é uma figura tradicional da mitologia política e literária da China. A coletânea de poemas que carrega seu nome pertence ao mesmo domínio e seu significado é comparável ao da poesia grega dos tempos clássicos. No Ocidente, a democracia chocou a mente dos homens; na China, foi o Império. O bom governo é assunto de uma disputa no Ocidente; na Oriente, é uma questão moral. A tirania é sempre péssima, ainda que por motivos diversos. A coletânea que tenho é a tradução de David Hawkes, o tradutor do Sonho, e faz jus aos grandes momentos do livro. Li sao é a peça óbvia na coletânea, mas os poemas que querem chamar as almas de volta são também encantadoras.

"Quando subi ao esplendor dos céus
De relance vi, lá embaixo, minha velha casa,
O coração do cocheiro pesou e os cavalos por saudade
voltaram suas cabeças e se recusaram a seguir"

Volta, minh´alma.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Política e expertise

Andei colocando leituras em dia, incluindo um livro já antigo sobre expertise em ambiente legislativo. Kevin Esterling era professor da UCLA em Riverside quando publicou The Political Economy of Expertise, pela editora da Universidade de Michigan, em 2004. A essa altura da vida, já sei de cor como esses livros são escritos e os casos estudados são antigos: o caso do Clean Air Act no governo Bush, o caso dos vouchers educacionais e o caso das HMOS, a partir da proposta original de Nixon. A conclusão fundamental é que o processo legislativo americano, visto do início do século XXI, podia aceitar de forma relativamente ampla o insumo da ciência, exata ou social. O seu impacto variava, dependendo do assunto e da qualidade dos atores sociais envolvidos, mas a conclusão geral do trabalho é positiva. Não por motivos ingênuos, mas porque as partes interessadas podem encontrar na ciência uma base legítima e politicamente forte para sustentar suas posições. Mesmo quando são políticas, no sentido amplo da palavra.