segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Relevância

O trabalho de Tewksbury e Rittenberg é recentíssimo. News on the Internet: Information and Citizenship in the 21st Century foi publicado ao final de 2012 e apresenta pesquisa pertinente e relevante. Aprendi, por exemplo, que quem consome notícia sobre celebridades consome notícias sobre política; o mesmo não ocorre com quem consome notícia esportiva. As mídias tradicionais estão morrendo financeiramente por causa da concorrência dos blogs e dos sítios, mas ainda são a fonte de mais de 80% das informações. Esse modelo, obviamente, não tem futuro. Notícia, em larga medida, exige marca para ter credibilidade. Isso ajuda a entender porque a Amazon comprou o Post. Há mais nesse livro brilhante. Vou lendo e vou postando.




Sobre fragmentação estrutural: "We should not overstate de unifying potential of sites such as Google and Facebook (another of the most popular sites in America; Nielsenwire, 2010). The 10 most popular sites may account for a bit of traffic, but the average American visits more than 50 sites in a typical month. There is a plenty of online activity beyond the use of general content sites".

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

How to use...

Sim, comprei e li o manual do Delany. A data da publicação era atrativa, 2013, e estava com pressa para escrever o livro sobre redes sociais, mas é um mero manual de como fazer. Útil, como referência, para quem opera campanhas. Não oferece uma visão mais geral. Fica no kindle.



terça-feira, 18 de novembro de 2014

Peer networks

Gosto desse livro. Sinclair é professora em Chicago e decidiu testar algumas hipóteses óbvias sobre comportamento político. É claro que a participação depende de relações sociais, mas medir esse efeito é outra coisa. Ela mostra, por exemplo, que se algum membro de uma família recebe um diploma por ter votado, os demais membros têm um estímulo a votar também. Se uma sondagem sobre comparecimento é feita usando pesquisadores recrutados na vizinhança, a taxa de abstenção reportada é menor do que em um pesquisa feita com pesquisadores desconhecidos ou de outra raça. Ninguém quer ficar mal na foto. Um eleitor democrata quando se muda para uma região republicana tende a votar republicano com mais frequência. Fund raising é atividade de empresários políticos locais: há sempre alguém liderando o processo. Os resultados da pesquisa de Sinclair ajudam a pensar. O livro é de 2012.




segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Babel

Raramente um livro sobre outro livro agrada. Há exceções, mas o comentário tem sido a alternativa. Por vezes, não basta o comentário ou o comentário é tão extenso que vira livro. Nenhum desses casos é o do Bloch, que apenas decide examinar as implicações matemáticas de várias criações geniais de Borges. Para um eleitor informado, várias delas (muitas, talvez) têm uma clara origem em paradoxos matemáticos, mas uma coisa é uma origem, outra, a sua execução. Bloch revela a consistência lógica das postulações da Biblioteca de Babel e do Livro de Areia e também, como aqui e ali, Borges deixa a ponta do casaco de fora. Difícil dizer se intencionalmente ou não. Difícil dizer se essas alternativas são relevantes. O livro é de 2008.




Vejo fascinado que existem na internet imagens virtuais da Biblioteca:

 http://hyperdiscordia.crywalt.com/library_of_babel.html

Rule of law

David Kilcullen é um oficial de inteligência do exército australiano com experiências de campo em Timor (quando realmente esteve em batalha) e no Afeganistão. Seu livro é uma obra prima de reflexão sobre o uso da violência e sobre confrontos assimétricos. O resumo é bem simples: todos os seres humanos têm um interesse direto no império da lei. Quem comanda a lei (diria mesmo: quem entrega a sentença e a executa), por mais arbitrária que seja, tem o comando do campo. A violência, como mostram os fasces do magistrado romano, é apenas um instrumento. A Al-Qaeda oferecia justiça no Afeganistão, o que se traduz em um ambiente de negócios favorável também. No Timor (e na Indonésia, em geral), ganhou quem impôs a lei. A mitologia da guerrilha na selva é só uma mitologia.






Cada vez mais rápido

Li às pressas para terminar o livro sobre redes sociais, mas Digital Politics in Western Democracies: A Comparative Study (2013), do Cristian Vaccari, é uma coleção de informações útil e relevante. De forma geral, a digitalização da política caminha na mesma trilha das mídias tradicionais: é mais intensa onde a cultura escrita é mais desenvolvida e onde o sistema político é mais deferente aos humores do cidadão. Ou seja, começa e avança mais rapidamente na Escandinávia e mais lentamente na Europa latina. O mundo anglo-saxão fica a meio caminho, com a exceção norte-americana em alguns indicadores.

A comparação com o Brasil, contudo, é instigante. A Suécia levou mais de dois anos (no final dos anos 1990) para conseguir um nível de digitalização do eleitor que o Brasil conseguirá em um (em meados da década de 2010). O país também ultrapassou indicadores da Europa latina com quem partilha problemas seculares, como o baixo nível relativo dos hábitos de leitura, como é o caso de Portugal ou Espanha. Definitivamente, algo está acontecendo no Brasil, certamente induzido pela televisão, pelos modismos e pela adaptação do país à tecnologia. Duvido, contudo, que evoluamos para um padrão sueco de relação entre política e redes sociais.




Controle

O trabalho da professora Stromer-Galley é recentíssimo, publicado no ano passado. (Presidential Campaigning in the Internet Age, OUP, 2013). Resume corretamente o impacto da internet sobre a dinâmica do noticiário político e o efeito das redes sociais sobre a polarização do eleitorado. De longe, contudo, o aspecto mais interessante é a contradição documentada entre o efeito político da internet (ampliar a participação do cidadão) e o esforço das campanhas (controlar a mensagem). De um lado, está o pote de ouro das campanhas, o envolvimento espontâneo do eleitor; de outro, o risco mais elevado: a viralização da campanha negativa. Ser atingido pelo imprevisto e pelo incontrolável. É evidente que, estendendo as retas em direção ao futuro, não possibilidade de controle efetivo pelas campanhas. Elas serão dominadas pela internet, antes e depois das eleições.




sábado, 15 de novembro de 2014

Les villes d'Italie de la fin du Xe siècle au début du XIVe siècle

Minha edição é a 1969, em dois volumes, publicada pela editora da Sorbonne. Espero que tenham restaurado o telhado da universidade, por sinal. O trabalho do Yves Renouard já deu origem a vários outros com o mesmo tema, mas a ideia continua boa. Duas coisas que não conhecia:

1) a figura do podestà, uma espécie de ditador, adotado por várias cidades, escolhido entre estrangeiros, para funcionar como comandante militar e árbitro das facções internas das cidades. Nunca conseguiu, de fato, se transformar em sistema de governo, mas ajudou várias das grandes cidades a evitar a dominação externa ou a mera submissão política. Apenas em Milão, uma versão do podestà se tornou família reinante;

2) a potência original da Toscana não era Lucca, nem Florença, mas Pisa. Largou na frente na gestão de negócios, no acesso ao mar e na política internacional. Com excesso de inimigos e pouco volume populacional, teve o azar de uma derrota militar sem precedentes em Meloria (1284). Tornou-se uma dependência de Florença e nunca mais se recuperou. Renouard chama atenção para o fato de que tinha a mesma população nos anos 1280 e 1950.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Paradiso XII, 31

"e cominciò: "L´amor che mi fa bella
mi tragge a ragionar de l´altro duca
per cui del mio sì ben ci si favella"

domingo, 9 de novembro de 2014

Livro I. Fuga 8. Ré sustenido menor

Como se ganhasses mais altura para ver
E desses um passo a mais antes de voltar
Lentamente retornando à planície sem sofrer
Olhando de relance para trás e meditando.

Em Éfeso, os caminhos que seguem para cima
São os mesmos que seguem para baixo
Mas não ao mesmo tempo, como o sábio opina
E a inversão demonstra, três vezes, em cânone.

Dura e difícil a arte de passar do um ao dois,
Saber qual é o lado certo desse espelho
Se há um tema que vem antes ou vem depois

Se, contudo, todas as referências se equivalem
Cada ponto tem o seu inverso; o eu, um outro,
Em perfeita harmonia caso se contemplem.