quinta-feira, 2 de novembro de 2017

rifatto sì, come pianta novelle

Completei esse ano a terceira leitura da Commedia, acho até que escrevi sobre o fato nas Reflexões. Saí convencido de que o livro mais brilhante é o Purgatório, quando o Poeta fica face a face com o drama da punição. No Inferno, as penas são diretas e incontroversas; no Purgatório, sua Justiça não é tão evidente. Dante vive momentos de transição, de Virgílio a Beatriz. Fica claro que sua viagem não é meramente turística, nem teológica. Algo está acontecendo com ele e, de fato, seu nome, na voz de Beatriz, aparece no poema. Por isso, mandei vir o livro, relativamente famoso na comunidade de estudos dantescos, de Francis Ferguson, Dante´s Drama of the Mind. A Modern Reading of the Purgatorio (Princeton, 1953).

Entrega bem menos do que promete. As idéias interessantes estão nas linhas acima e Ferguson tem o mérito de identificá-las com elegância e pertinácia. Se você espera uma forma de "melhores momentos" de sua poesia, como no ensaio de Borges, não vai encontrar. No final, para chatear o leitor, vem as comparações do Brande-Lança, uma obsessão de autores anglo saxões. Parece que não conseguem conviver com o mérito genuíno de Dante e Cervantes. Chega a ser embaraçoso e é melhor saltar essas partes. O parágrafo sobre o Paraíso Terrestre é particularmente frustrante.