domingo, 18 de novembro de 2018

Após as eleições

Escrevo por mero compromisso, após meses de confusões eleitorais. Tudo terminou bem, como previsto, o que é bom para os modelos e bom para os negócios. Terminei a campanha em Paris, à sombra da Madeleine.



segunda-feira, 16 de abril de 2018

As coisas que não li

O Defensor da Paz (1324) deve ser o único clássico da política que ainda não li. Deveria ter feito isso na pós, mas preferi ler o Polycraticus. Por isso, mandei vir o ensaio clássico, publicado em 1920, do professor de História Eclesiástica de Harvard, o venerável Ephraim Emerton, para preencher parcialmente a lacuna.

The Defensor Pacis of Marsiglio of Padua. A Critical Study traz tudo que é importante saber sobre a bio e a obra do grande médico/jurista, companheiro de confusões de Guilherme de Ockham e Luís da Baviera. É, ao mesmo tempo, uma denúncia do abuso do poder do Papa e uma boa exposição da teoria do Imperador como representante do Povo. Uma ideia poderosa, como se pode deduzir com facilidade. A descrição da disfuncionalidade do Poder Espiritual é particularmente pungente: vou ter de comprar e ler o tratado de Marsílio (1275-1342).

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Star Trek Discovery

Já tinha ouvido falar de Paul Stamets antes da nova versão de Star Trek, mas é evidente que a homenagem da série e sua participação em entrevistas sobre o show tornaram imperativo comprar o livro dele, Mycelium Running (2005). É um curso básico sobre fungos e cogumelos e também um manual para seu cultivo. Ia dizer que tem um sabor de Era de Aquário, mas a expressão "sabor" poderia soar ambígua. Na prática, o livro está baseado em uma ideia importante: a ubiquidade das redes miceliais. São elas as encarregadas do processamento da matéria orgânica e mesmo a inorgânica para posterior reposição no mundo vivo e reequilíbrio mineral. Fungos são capazes de absorver cádmio e mercúrio; de processar celulose e de se alimentar de radiação. Acho que a observação que melhor resume o livro está na página 101:

"Com dióxido de carbono e água como subprodutos, o metabolismo dos fungos é o reverso da fotossíntese, reduzindo a celulose e a linhita a formas mais simples e as reformulando que quitinas, polissacarídeos, proteínas, enzimas e álcoois. As interações de fungos e bactérias evoluíram em complexos processos bioquímicos para a produção de nutrientes, constituindo o fundamento microbial de nosso ecossistema"

Esporos se espalham pelo espaço em escala desconhecida. A rede micelial se estende pelo universo, como descobriu o Paul Stamets em Discovery. Os dois Stamets.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Quiero contar una cosa muy temeraria

Acho que mencionei aqui a hipótese do Christian Duverger sobre a autoria da Historia Verdadera de la Conquista de la Nueva España. Cortés seria o autor secreto dessa narrativa pessoal, de um simples e humilde soldado. Por conta disso, fui reler o livro escrito por volta de 1568, quase cinquenta anos depois dos eventos, e publicado pela primeira vez em 1632. Minha edição é mexicana, da Alianza, de 1991. Os fatos são conhecidos e não vou repeti-los. O que importa é o que li agora, passados os cinquenta anos de vida.

Primeiro, a história de Malintzin. Assombrosa em si mesma, pode ficar ainda mais assombrosa se ela foi a fonte de informações sobre a política dos Aztecas. De fato, é estranho que Cortés, mal chegado ao México, tenha compreendido de imediato a situação diplomática e política do império nahuatl. Houve alguém que lhe deu as pistas e quem melhor que uma mulher, a vítima preferencial desses arranjos. Se Malintzin foi mesmo a conselheira de Cortés (Bernal é o primeiro a reconhecer sua importância), a história verdadeira da Conquista da Nova España é ainda mais fascinante.

Segundo, há o capítulo 156, sobre a captura de Cuahutemoc. Os trechos sobre a mortandade da batalha são famosos, mas não me lembrava da confissão de Bernal, do medo que tinha dos combates, do horror dos sacrifícios. Sabemos que Bernal esteve no campo da batalha e sabemos que, como qualquer um, tremeu.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Circunferência infinita, centro em toda parte

Há tempos procurava uma oportunidade para conhecer o como e o porquê do Círculo de Viena, onde orbitaram as melhores mentes que conheço. Schlick e Carnap estavam no centro, mas Wittgenstein, Goedel, Russell e mesmo Einstein estavam em torno. Esse é o tema de Exact Thinking in Demented Times (2017), do professor Karl Sigmund, ele mesmo um pioneiro da aplicação de matemática à Teoria da Evolução. Um subproduto evidente das ideias do Círculo.

A personalia era conhecida, mas os detalhes do assassinato de Schlick, posto no quadro do naufrágio da Áustria no nazismo, e o comportamento maluco de Wittgenstein foram novidades para mim. O aspecto mais interessante, no fim, é notar que as derivações mais importantes do Círculo, as obras de Popper e de Goedel, não tinham uma relação direta com as reuniões das quinta feiras em Viena. Ambos, contudo, confrontam, testam e refinam as ideias fundamentais da análise lógica da linguagem. Seja a linguagem qual for.