terça-feira, 13 de setembro de 2016

Neve de Primavera

Ouvi falar de Yukio Mishima pela primeira vez em um catálogo do finado Círculo do Livro. O folheto, que sugeria compras, elogiava "Confissões de uma Máscara", título que impressiona qualquer um. Não pedi a meu pai para comprar, contudo. Muitos anos depois, vendo televisão de madrugada, comecei a assistir por acaso o filme do Paul Schrader, que me lembro ter sido elogiado em alguma matéria do igualmente finado Jornal do Brasil. Naturalmente, a reportagem mencionava o suicídio trágico de Mishima e o final do filme não seria uma surpresa. O filme, em si mesmo, foi a surpresa (e dela não me recuperei até hoje). Encenando seus grandes livros como peças de teatro, o filme de Schrader quis emular a intensidade passional do autor, produziu cenas memoráveis, como a espada na tela de Delacroix, e reencenou de forma extremamente feliz as circunstâncias de seu suicídio ritual. É um grande filme, cujas cenas tenho a honra de guardar na memória. Mishima, anos depois, entrou em moda por conta de seu homossexualismo e de mais uma onda de japonismo ocidental nos anos 1990. Nada disso me parecia relevante. Queria saber se havia algo de real sob o filme, sobre os assuntos que me interessavam, o espelho japonês do Ocidente, a autenticidade da vida, o confronto entre pena e espada, entre o sol e o aço. Quando um navio americano estacionou na baía de Tóquio em meados dos anos 1850, algo muito estranho e espetacular aconteceu. De alguma forma, esse algo se conecta aos eventos de 1970. Sigo lendo, sigo meditando, sem compreender completamente. Em tudo o que é belo, escreveu o filósofo, existe algo que merece ser sabido.



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