quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Cante, dance e se emocione

Confesso que não esperava muito do livro. A bio do Gerhadt, nova, estava meio salgada e preferi algo mais direto sobre sua poesia. Mais para ver o que um pastor, hoje, diria sobre o poeta e seus corais. Gastei alguns anos traduzindo os mais famosos e conhecia bem os textos: queria um outro ponto de vista que não fosse o estritamente bachiano. Confesso que me surpreendi. Deichgräber escreve o que deve ser escrito sobre a poesia de Paul: ela não é um artefato histórico, mas uma resposta à guerra, ao sofrimento, à perplexidade diante da vida e do universo. Como em vários momentos ele mesmo diz, para os alemães, o final da II Guerra Mundial não é muito diferente do fim da Guerra dos Trinta Anos.

Deichgräber também não está interessado em uma análise literária: fala da poesia de Gerhardt porque a ouviu e cantou quando criança, porque ela emociona em sua aparente simplicidade, porque produz emoções. É uma música que, como nos cultos africanos que ele expressamente menciona, deve provocar dança e exaltação. Era isso que Paul queria, é isso que a música do Mestre nos pede. Como ele diz em uma bela página: "Não se pode festejar sentado em um banco de igreja e, assim, ir a Belém". Para chegar a Belém, há que caminhar, se mover, cantar e celebrar.

"A alegria pode assim de novo, na ponta dos pés, se espalhar e um gesto de confiança desafiar a morte e o diabo, para envergonhá-los; é expressão essencial com divino efeito salvífico". (pág 122)



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