quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Exercício de irracionalidade

Tal como no caso do Quixote, primeiro você ri, depois, chora. De um ponto de vista brasileiro, a história de Perón é quase inconcebível. A transformação de uma, digamos, atriz em primeira dama e co-governante já seria bizarra. As vicissitudes de seu cadáver embalsamado desafiam uma explicação racional. Em 1954, Vargas se suicidou por causa de uma crise aguçada por um mero assassinato político que não se consumou; em 1955, a Força Aérea Argentina bombardeou a Praça de Maio e a Casa Rosada, matando mais de 200 pessoas. Crime jamais apurado. O regime militar brasileiro, em duas décadas, não assassinou 200 pessoas.

Nos seus últimos anos, Perón desfilava pelos salões elegantes de Buenos Aires com uma amante de 15 anos. No Brasil, isso seria inconcebível, apesar da fama do país. Perón ordenou a prisão de bispos! Bom, não falamos das relações com o nazismo, da corrupção quase inacreditável (Perón quase privatizou o comércio internacional de commodities da Argentina). Em suma, visto de Buenos Aires, o populismo brasileiro pode ser considerado um exercício de racionalidade. O Varguismo é apenas um assunto para historiadores; o Peronismo ocupa, nesse momento, a Praça de Maio.



O livro de Horacio Vázquez-Rial é de 2004.

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